1

IMÓVEIS DE INTERESSE

PÚBLICO

ESTAÇÃO DE CAMINHO-DE-FERRO DE CAMPANHÃ

Embora sem pormenores arquitectónicos dignos de realce, a Estação de Campanhã encontra-se intimamente ligada à história dos caminhos-de-ferro em Portugal.

A sua edificação está igualmente associada a outra importante obra pública, a ponte de caminho-de-ferro sobre o Douro, que ligada o troço final da linha das Devezas em Gaia à cidade do Porto e concretamente a Campanhã.

Esta imponente obra foi marcada por vicissitudes várias, conhecendo vários traçados ou projectos.

No primeiro, datado de 1860, a estação ficaria no Esteiro de Campanhã e ligar-se-ia às linhas do Douro e Minho através de um ramal que, continuando pelo vale de Campanhã entroncaria com as citadas linhas peno de Rio Tinto. Vários obstáculos surgiram entretanto e este projecto foi abandonado.

Elaborou-se enfio uma nova directriz que aproveitando de algum modo o traçado anterior, subia o vale do rio Tono até ao Pego Negro e voltando à esquerda continuaria até ao Campo do Cirne, onde se situaria enfio a estação-términus, a qual estaria, por sua vez, ligada às linhas do Minho e Douro.

As obras começaram, mas uma vez mais surgiram vários problemas.

Finalmente em 1872, Manuel Afonso Espregueira, Pedro Inácio Lopes e Alexandre Eiffel, elaboraram aquele que viria a ser o traçado definitivo.

Em Gaia, a linha seguiria aproximadamente o mesmo trajecto das anteriores directrizes.

Click para aumentar a imagem
Estação de Caminho-de-Ferro de Campanhã

Transposto o rio através de uma ponte com 355 m e uma altura de 62 m acima do nível da água, perfuraria um túnel sob o Seminário, inflectiria depois a meio da encosta e penetrava noutro túnel próximo da Quinta da China; continuaria depois junto à rua do Freixo e seguiria até à parte baixa de Godim, onde ficaria a estação terminal da cidade. Seria assim fácil a ligação com as linhas do Douro e Minho que tinham o seu fim na Quinta do Pinheiro, no lugar do mesmo nome.

0 Governo da altura aprovou este projecto, mas o processo administrativo fez com que somente em 1875 o contrato de construção fosse assinado. A obra foi adjudicada à Casa Eiffel de Paris por 1200 000 francos, iniciando-se os trabalhos em 28/4/1875.

A obra prosseguiu em bom ritmo (para a época) e em 30 de outubro de 1877 a ponte ficou concluída, sendo inaugurada em 4 de Novembro do mesmo ano pelo rei D. Luís e pela rainha D. Maria Pia que, aliás, lhe deu o nome. A descrição detalhada desta solenidade encontra-se relatada no «Comércio do Porto» desta data. Refira-se apenas que o banquete de gala foi servido nas salas da estação de Campanhã.

A instalação da Estação propriamente dita, acompanhou de peno as vicissitudes dos diversos projectos e suscitou interesses variados. As opiniões adversas, sustentavam que Campanhã distando cerca de 2 Km do centro da cidade não era o lugar ideal para a estação. 0 certo é que os trabalhos foram-se desenvolvendo e só anos mais tarde é que é inaugurada a estação de S. Bento. Em 15 de Setembro por acordo feito entre o Governo e a Companhia, o primeiro inicia a construção do edifício da Estação que seria inaugurada juntamente (e implicitamente) com a ponte em 1877.

A estação ocupou pane dos terrenos da quinta do Pinheiro e das quintas do Valado. Dotada das necessárias dependências e do equipamento mais moderno, a estação de Campanhã rapidamente transformou o meio onde se inseriu.

Á volta dela imediatamente se verificou um surto demográfico e urbanístico, bem como um desenvolvimento sócio-económico notável ainda visível nos nosso dias.

A estação sofreu recentemente obras de conservação e vai-se adaptando progressivamente às novas exigências e solicitações. Com a aplicação do plano de modernização da rede ferroviária nacional e com a conclusão dos trabalhos da nova ponte de caminho-de-ferro sobre o Douro, vai com certeza ganhar um alento renovado, contribuindo para que o nome de Campanhã seja «transportado» cada vez mais longe, quer no país, quer no estrangeiro.

MATADOURO INDUSTRIAL DO PORTO

0 matadouro do Porto está situado no Largo da Corujeira à margem Norte da Rua de S. Roque da Lameira que lhe dá acesso.

Por volta de 1910, sentindo-se necessidade de substituir o insuficiente e velho matadouro de S. Diniz, é aprovado o projecto de construção de um novo matadouro municipal na cidade do Porto.

Na escolha do local atendeu-se a vários requisitos; de facto, embora perto do centro da cidade, a Corujeira era então um local povoado e para onde a cidade não tendia a estender-se. Possuía, além disso, captação de água própria e abundante, escoava os líquidos residuais com facilidade da e permitia a futura ampliação.

Acrescentem-se a tudo isto as vantagens da existência do caminho-de-ferro no extremo NE e da rede viária

Para perfazer a superfície necessária, a C.M. Porto procedeu, em 1914, à expropriação amigável de alguns campos de lavradio anexos a terrenos municipais existentes.

Foram assim adquiridas 6 parcelas de terreno - respectivamente a José Pereira Valverde, a Guilhermina Amélia Dias, ao Sindicato Agrícola dos Lavradores Portuenses, a António Dias Brandão, a Francisco de Carvalho e a José Luís dos Santos - correspondestes aos campos denominados dos Conflitos, das cavadas e Além-Juncal.

Click para aumentar a imagem
Matadouro Industrial do Porto

Para uma superfície aproximada de 17 000 m2 dispendeu o município cerca de 12000$00.

Concluídas as expropriações, imediatamente se iniciaram as primeiras obras de edificação; apesar disso o processo foi lento e complexo; de tal modo que só em 1923 é que as operações de abate foram transferidas para o novo matadouro, então concluído.

0 apetrechamento mecânico fornecido pela casa Beck & Henkel, de Cassel foi introduzido em 1930.

Finalmente, em Julho de 1932, efectua-se a inauguração oficial, dotando-se a cidade com um magnífico estabelecimento construído segundo as mais modernas concepções e obedecendo a rigorosos preceitos higiénicos da época.

0 matadouro do género 0ffenbach, tipo de instalação em superfície também conhecida por sistema alemão, ocupa uma área total de 30 000 m2 e todas as suas dependências foram concebidas para que as diferentes operações se sucedessem de uma forma metódica e progressiva.

Não nos vamos deter na enumeração e descrição pormenorizada de cada uma das dependências, pois tal não cabe no âmbito deste trabalho. Refira-se, no entanto, que todas estas dependências são servidas por eixos de comunicação onde podem circular veículos e peões. A água do matadouro é fornecida por dois poços e pela rede de distribuição da cidade. Possui ainda uma completa rede de esgotos ligada a um colector geral.

Pelo decreto-lei n.° 661 de 1974 o matadouro deixa de ser património municipal, passando para a alçada da Junta Nacional dos Produtos Pecuários, organismo que tutelava todo o serviço da rede nacional de abate.

Com a adesão à C.E.E. e consequente adopção do sistema de mercado livre, os vários organismos existentes, entre os quais a J.N.P.P., foram transformados em institutos.

Surge assim o Instituto Regulador e Orientador do Mercado Abastecedor (IROMA) sob a égide do qual se encontra, presentemente, o matadouro industrial do Porto.

Além da cidade, este matadouro abastece os concelhos de Gondomar, Maia e Santo Tirso, bem como parte dos concelhos limítrofes de Gaia, Matosinhos e Valongo.

Servindo no total mais de um milhão de pessoas, a sua capacidade de abate englobando os diversos tipos de gado, situa-se entre as 12 e as 13 000 toneladas ano.

Em 1988 foram abatidas 9 030 t, tendo-se atingido em 1981 o recorde de 11 800 t.

As infra-estruturas deste matadouro são ainda as originais, embora o equipamento tenha sido totalmente remodelado ao longo do tempo. Em temos tecnológicos ainda se pratica a esfola horizontal.

A concluir, numa palavra de agradecimento ao Eng. César Augusto Santos Vieira, um dos administradores do Matadouro Industrial do Porto, que amavelmente se dispôs a prestar-nos toda a colaboração necessária.

CENTRO JUVENIL DE CAMPANHÃ

Situado na Rua do Pinheiro de Campanhã, 468-500 (nas traseiras das oficinas de reparações da CP ) este centenário edifício está intimamente ligado à história da assistência e solidariedade social na cidade do Porto.

Em 6 de Janeiro de 1814 o padre 0ratoriano José de Oliveira funda numa casa da então rua das Hortas (hoje do Almada) o Seminário dos Meninos Desamparados cujo objectivo inicial era acolher as crianças do sexo masculino filhas das vitimas do desastre da «Ponte das Barcas», ocorrido com a entrada do exército francês sob o comando de Soult, aquando da 2.ª invasão (1809).

Depois de ter conhecido várias instalações na cidade, a instituição transfere-se em 30 de Abril de 1863 para a Quinta do Pinheiro em Campanhã, doada juntamente com outros' bens, pelo ilustre proprietário e benfeitor Luís António Gonçalves Lima com a condição determinante de que, em caso de apropriação governamental ou extinção por qualquer outro motivo, passariam a propriedade e o edifício para a posse da Santa Casa da Misericórdia do Porto.

A partir desta data, a instituição não cessou de crescer, quer procedendo às necessárias e dispendiosas obras de adaptação do edifício (nas quais colaborou largamente a generosidade tripeira), quer prosseguindo a sua meritória missão de assistência.

Eis alguns números que comprovam de algum modo o que acabamos de referir:


1814 (Ano da fundação)....................................5 Crianças

1819....................................................................30 Crianças

1899................................................................. 103 Crianças

1912..................................................................180 Crianças

1946................................................................. 300 Crianças

Por volta de 1874 o colégio é «muito bem administrado por uma comissão e o seu estado é muito florescente»(2); vejamos os seus rendimentos: *


Juros de inscrições...............................................1340$250 Reis

Rendimento de capitais......................................1098$290 Reis

0brigações prediais.................................................64$800 Reis

Acções da C.a de Utilidade Pública...................200$000 Reis

Acções do Banco Mercantil Portuense...............266$000 Reis

Acções do Banco União........................................159$000 Reis

Acções do Banco Aliança.....................................177$600 Reis

Acções do Banco Comercial..................................15$000 Reis

Juro das Acções da Câmara do Porto....................9$813 Reis

Foros em dinheiro..................................................99$360 Reis

Foros em espécies.................................................330$360 Reis

Renda de propriedades em Portugal................694$140 Reis

Receita anual regula por................................13 000$000 Reis

Despesa anual regula por..............................10 000$000 Reis

* Possui também propriedades na cidade da Baia, no Brasil.

A designação desta instituição foi, naturalmente, evoluindo ao longo dos tempos.

De Seminário dos Meninos Desamparados, inscrição em ferro forjado, ostentada no bonito portão principal, passou a Internato Juvenil Padre José de Oliveira (homenageado sob a forma de um busto existente no jardim), designando-se actualmente por Centro Juvenil de Campanhã.

No actual edifício funcionam uma Creche e Jardim de Infância com 150 crianças, um Internato com 80 crianças e (ocupando pane das instalações) a Universidade Lusíada com mais de um milhar e meio de alunos.

Estão também aqui instalados algumas dezenas de alunos oriundos dos países Africanos de expressão oficial portuguesa, sob a égide da Fundação Afro-Lusitana.

Através de uma visita detalhada, tivemos oportunidade de constatar as várias infra-estruturas e serviços existentes distribuídos pelos 3 pisos do edifício desde o bar (adaptado de um antigo lagar), cozinha, refeitório (250 refeições), salas de aula até aos dormitórios, lavandaria, lavavos, etc.

0 Centro Juvenil de Campanhã desenvolve ainda actividades no âmbito da formação técnica e profissional em áreas como a serralharia e olaria (0.T.L.).

Uma palavra para os vários «Clubes» existentes e para a biblioteca, centro polivalente de dinamização cultural onde, entre outros materiais, se encontra um precioso núcleo de actas e outra documentação referentes à própria história da instituição e que através de uma exploração mais sistemática (e necessariamente árdua e morosa), permitiria um estudo mais desenvolvido.

Deixamos para o fim, uma breve mas importante referência à bonita e ampla capela dedicada a S. José, que ocupa o corpo central do edifício.

Construída em 6/1/1899 para comemorar o 85.° aniversário da fundação ao longo da sua existência, apresenta-se actualmente em bom estado de conservação.

Click para aumentar a imagem
Centro Juvenil de Campanhã

Sendo de natureza semi-pública ainda serve de local de culto, podendo-se admirar alguma talha dourada, um formoso altar, azulejaria e brocados originais, um lustre e um interessante conjunto de pequenos painéis em azulejo, representando cenas da via-sacra.

Por tudo o que foi dito, podemos afirmar que esta secular instituição, sob a orientação do Dr. Agostinho Pinto (Director) e do Dr. António Vilar (Presidente da Mesa Administrativa), é uma realidade bem presente, como se constata no Plano de Actividades e projecta já o seu olhar para o futuro, delineando para isso, novos e ambiciosos projectos (onde se incluem a criação de novas actividades e a conclusão do edifício que sirva de residência universitária).

ESTADIO DAS ANTAS

Click para aumentar a imagem
Estádio das Antas

Em 14 de Setembro de 1933, surge a ideia da construção de um novo estádio do Futebol Clube do Porto.

Constituída uma comissão «pró-campo» e autorizado um empréstimo obrigacionista, o empreendimento começa a ganhar forma.

Em 8 de Fevereiro de 1948, na sede do clube assinava-se a escritura da compra dos terrenos.

A troco de 1400 contos uma área de cerca de 48 000m2 de terreno pertencentes à antiga quinta de Salgueiros, passaram a património «azul e branco».

Em 4 de Dezembro de 1949, em acto simbólico, foi lançada a primeira pedra do futuro estádio concebido pelo arquitecto 01demiro Carneiro e pelo engenheiro Miguel Resende.

Iniciadas as obras, deu-se conta da necessidade de se procederem a algumas expropriações de terrenos e prédios, já que os 48 000 m2 não eram suficientes para o grandioso complexo.

Finalmente em 28 de Maio de 1952, inaugurar-se-ia o Estádio numa magnifica cerimónia que contou com a presença do enfio Presidente da República, General Craveiro Lopes que condecorou a bandeira do clube com a medalha de Mérito Desportivo.

0 jogo inaugural foi um «Porto-Benfica» favorável aos homens de Lisboa por 8-2; um triunfo que o F. C. Porto iria devolver mais tarde ao vencer na inauguração do Estádio da Luz.

Três direcções ficaram intimamente ligadas à concretização do Estádio; foram elas: a do Dr. Cesário Bonito que deu o «pontapé de saída», a do Dr. Miguei Pereira que viveu o impulso decisivo e assistiu aos primeiros trabalhos e a do Dr. Urgel Horta que assistiu à inauguração do Estádio.

A massa associativa correspondeu em pleno ao esforço desenvolvido pelos orgãos directivos do clube, contribuindo decisivamente para a obtenção dos fundos necessários.

Registemos agora outras datas relevantes no que concerne ao complexo desportivo.

03/08/1958 - Inaugurado o campo de treinos.

01/09/1962 - Inaugurada a iluminação do Estádio.

18/08/1968 - Inauguradas as Piscinas

14/07/1973 - Inaugurado o Pavilhão Gimnodesportivo.

30/04/1976 - Fecho da «Maratona».

Daí para cá o clube não tem deixado de realizar novos empreendimentos, obtendo inúmeros êxitos no campo desportivo e não só.

Mas isso já faz parte da gloriosa história do F. C. P., não cabendo no âmbito deste trabalho.


Notas

(2) Pinho Leal, Portugal Antigo e Moderno, vol. II, pág. 61.


Página Anterior índice página seguinte