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0 ESPAÇO ADMINISTRATIVO

DE CAMPANHÃ

PERANTE 0 FUTURO

O espaço urbano tem antes de mais, um conteúdo social e, como tal, interfere no comportamento dos indivíduos.

0 avanço técnico, se por um lado permite vencer inúmeras adversidades, pode actuar, também, negativamente para a população. A partir do momento em que a vida dos homens se altera por imposição dos modelos da vida moderna, resultam comportamentos caracterizados pela indiferença, isolamento e, até, por certo egoísmo.

Estes problemas são tanto mais graves quanto maior for a deficiência da malha urbana, o que toma premente racionalizar o espaço, não só com vista à organização, mas principalmente o seu funcionamento na articulação dos diferentes elementos que compilem toda a estrutura citadina.

A freguesia de Campanhã foi, durante os dois últimos séculos, invadida por variadíssimas construções, cuja implantação, por vezes impensada, conduziu à degradação desta antiga área periférica.

Toma-se, a nosso ver pertinente reflectir sobre determinados pontos chave, por forma a promover a qualidade de vida dos habitantes, reconhecida a carência em diferentes equipamentos, espaços verdes e vias de circulação.

Prevê-se pela evolução demográfica recente da área, um aumento populacional que se traduzirá num incremento do tráfego.

Assim, cada vez mais se vai evidenciar a inviabilidade deste espaço para a manutenção das antigas indústrias que, por um processo de relocalização, se retirarão da freguesia ou, se forem sensibilizadas, poder-se-ão implantar nas imediações da Estrada da Circunvalação, área favorável à localização industrial pela disponibilidade de espaço e de boas vias rodoviárias.

Presume-se que os espaços agricultados, ainda existentes, serão alvo de uma intensa ocupação por blocos habitacionais construídos por iniciativa camarária, cooperativa ou privada. Deste modo, ir-se-á completar o preenchimento do espaço que resta ainda livre, entre as Ruas da Nau Vitória e a de Contumil, e entre esta e a de S. Roque da Lameira.

Relativamente a Azevedo, tal processo poder-se-á também concretizar, mas pensamos que de forma mais moderada, a menos que seja solucionado o problema do atravessamento da Estrada da Circunvalação.

Estamos numa época em que o processo de urbanização, quando não pensado convenientemente, dada a sua rapidez, poderá resultar a curto prazo num agravamento das condições, cujas cicatrizes se reflectirão nos tempos vindouros.

É, pois, este surto invasor desregrado do rural pelo urbano o que nos preocupa, e nos leva a procurar no passado as razões que presidiram às actuais estruturas, por forma a orientar as intervenções no futuro.

Visando, numa perspectiva humanitária, a promoção da qualidade de vida dos habitantes desta freguesia em particular, e do concelho em geral, a intervenção deverá passar:

- pela definição de espaços verdes consagrados ao lazer público;

- pela manutenção de edifícios e ambientes com significativo valor arquitectónico e paisagístico;

- pelo controlo eficaz dos mais diversos empreendimentos de iniciativa pública ou privada;

- pela estruturação de uma rede viária que complemente a actual;

- pela correcta implantação dos equipamentos necessários à população.

Não ignorando as propostas elaboradas pelo actual Plano Geral de Urbanização, pensamos revestir-se da maior importância relembrar algumas propostas nele consignadas.

ESPAÇOS VERDES E DE LAZER PÚBLICO

Além do previsto parque urbano na área envolvente dos rios Tinto e Tono e do aproveitamento da mancha verde no Monte da Bela Vista (nas imediações do quartel da GNR), sugere-se a construção e preservação, em áreas já urbanizadas, de jardins públicos, como contraponto ao aumento da densidade de construções.

Deveria, deste modo, ser incrementado o plantio de espécies próprias nos poucos espaços que circundam os bairros camarários existentes, bem como alargadas ás áreas ajardinadas nos blocos habitacionais a construir.

Não descurando as potencialidades de toda a freguesia para este tipo de aproveitamento, reconhecida a falta de espaços verdes na cidade do Porto e adivinhando tal futuro para Campanhã, toma-se relevante referir a esquecida encosta. marginal. Virada a sul, com óptima insolação, este breve trecho da vertente do rio Douro, encontra-se ocupado por barracas e algumas unidades industriais em decadência.

Para quem passa na Avenida de Paiva Couceiro, junto ao rio, ou quem no futuro utilizar a via fluvial navegável, a imagem é de péssima qualidade em face das suas enormes potencialidades paisagísticas.

Sugere-se o revestimento desta área com jardins e um ou outro miradouro sobre o rio Douro, Vila Nova de Gaia e terras de Gondomar. Nalguns locais, construir-se--iam acessos a pequenas unidades funcionais de convívio social, como os cafés e bares, cujas fachadas, viradas a sul, deveriam ser rasgadas por grandes vidraças, aproveitando a espectacular paisagem que daí se vislumbra.

Outros pontos panorâmicos de grande significado, localizam-se ao longo da Rua de S. Roque da Lameira, onde os desníveis no terreno apelam ao aproveitamento das quintas aí existentes, não só em termos de mancha verde, mas também para actividades diversas.


EDIFÍCIOS DE SIGNIFICATIVO VALOR ARQUITECTÓNICO

Evidenciam-se, neste ponto, dois tipos de construções arquitectonicamente diferentes que, tanto quanto pensamos, são motivo de reflexão, pois conquanto ainda existam na freguesia de Campanhã, têm sido abandonados, estando muitos deles em perfeito estado de degradação. São eles, os palacetes do século XVIII e XIX e as casas de habitação social do Estado que remontam às décadas de 30 ou 40 do presente século.

Relativamente aos primeiros, admitimos a inviabilidade da sua manutenção para fins residenciais, uma vez que, quando abandonados pelos proprietários, a sua venda comporia elevados custos, pouco acessíveis a outros particulares.

Assim, a sua ocupação deverá passar por actividades cujo lucro permita, pelo menos manter a traça original. Propomos a instalação de funções de âmbito social (centros sociais, associações recreativas e culturais), administrativos ou turísticos (pousadas, hotéis).

Deste modo, evitar-se-iam situações como a que se vive no palacete da antiga quinta da Vila Meã onde vivem várias famílias, fazendo antever um futuro de perfeita degradação e até aniquilamento do imóvel.

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Bairro de casas pré-fabricadas dentro dos muros da antiga quinta de Vila Meã

Recorde-se que esta quinta, hoje propriedade da Câmara Municipal do Porto, está em vias de extinção, não só pelo que já foi dito, mas também porque no terreno adjacente, necessário à sua preservação, se encontra um bairro de casas pré-fabricadas que parece contribuir para a definitiva destruição de uma das mais antigas quintas da cidade.

As casas de habitação social, construídas pelo Estado Novo, são construídas térreas (ou com dois pisos), geminadas, que, nos anos mais recentes, têm vindo a ser substituídas por outras, ou profundamente alteradas, com risco de perda da imagem do conjunto.

Defendemos, vivamente, a definição de um regulamento que ponha travão ao desmantelamento destes bairros, que não só marcam uma época na história da habitação portuense, como ainda detêm uma harmoniosa beleza, conferida pela uniformidade e escala das construções.


REDE VIÁRIA

Como já referimos, além da Avenida de Fernão de Magalhães e acessos aos bairros residenciais que se concretizaram no nosso século, quase todas as restantes vias da freguesia datam dos séculos anteriores.

A observação das soluções apresentadas pelo Plano Geral de Urbanização denotam a intenção de resolver problemas de congestionamento rodoviário na área central, com a construção do 3.° troço da Via de Cintura Interna, mas não parecem trazer soluções para a freguesia de Campanhã. A contribuição desta via, destinada ao trânsito rápido, não vai resolver a questão dos acessos na direcção oeste - este (pelo contrário), o que evidencia a necessidade da abertura de ruas alternativas às que existem.

Nota-se, de facto, no que respeita à Rua de S. Roque da Lameira, uma inadaptação às actuais exigências. Com apenas duas faixas de rodagem (bastante estreita), continua a ser na actualidade, o percurso mais curto para aqueles que, partindo do centro da cidade, pretendam dirigir-se para norte e este (Rio Tinto, Valongo e Penafiel).

Azevedo de Campanhã é um bom exemplo do que poderá acontecer em áreas separadas do núcleo da cidade por vias de circulação rápida (Estrada da Circunvalação), quando a sua construção não é acompanhada de atravessamentos aceitáveis.

De facto, partindo da Circunvalação para Azevedo, existem apenas três vias de penetração nesta área - Pêgo Negro, Lagarteiro e S. Pedro. Pedro ter ficado esquecido o extremo leste do concelho, para lá da Circunvalação, uma vez que quase todas as ruas do lado oeste têm nessa via o seu término.

Assumindo que se trata de uma freguesia para a qual o futuro lhe reserva uma função especificamente residencial, lembra-se a necessidade da restruturação da rede viária, dada a clara dificuldade de circulação de veículos automóveis privados, e sobretudo do transporte público (autocarros e troleicarros), em ruas estreitas, tortuosas e, por vezes, com fortes declives.


EQUIPAMENTOS

Observa-se uma acentuada concentração de unidades funcionais nas ruas adjacentes à Estação de Campanhã e no sector sudoeste da Rua de S. Roque da Lameira. Em contrapartida é evidente a carência nas áreas recentemente ocupadas por residências.

São notoriamente necessários equipamentos ligados ao ensino (escolas e infantários), à cultura (centros sociais) e à saúde (postos médicos e centros de saúde).

No que respeita a actividades de comércio, principalmente diário (mercearias, padarias e talhos, entre outras), nota-se também uma distribuição desigual, nomeadamente uma quase ausência nos bairros residenciais mais recentes.

(continua)


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