Ana Conceição Videira Patrício (*)

PARTE I


CAMPANHÃ:

SONDAGEM AO PASSADO

DA FREGUESIA

 

(*) Licenciada em História


O trabalho que efectuámos constitui uma primeira aproximação ao passado de uma freguesia, riquíssima em documentação, ainda por estudar sistematicamente. Sem contar com a indispensável contribuição da Arqueologia, a documentação escrita de Campanhã remonta, de momento, a 1058: desde então dispõe de um manancial de informação muito vasto e diversificado que, esperemos, venha a merecer estudos sistemáticos, aprofundando questões específicas e integrando-se em âmbitos geográficos alargados.

Limitemo-nos, por ora, a destacar a marca linguística da variedade dos sucessivos senhores da área: Contumil e Godim (de «Godo») evocam a ocupação germânica; é provável que Tirares (de «Tiro», cidade da costa da Síria?) se relacione com a tradição do fabrico de panos de cor púrpura, de origem fenícia; e significativamente, Campanhã remete-nos para um longínquo proprietário romano cujo nome - Campanius - identificava a sua quinta («villa») e o rio que a servia («ribulum campaniana»).

Em segundo lugar, destaquemos a expansão do povoamento na zona: a partir do Castro Luneta ou da cristianizada «villa» de Baguim (então no aro de Campanhã), do Paço de Contumil às arroteias progressivas, acompanhando a intensificação do povoamento (como em Vila Meã).

Sigamos, assim, o percurso da freguesia a partir de origens ainda obscuras. Coeva de nacionalidade, organiza-se em torno de um mosteiro; mais tarde, vasta área avançando largamente sobre terras que integram hoje outras freguesias, submissa quer ao Bispo do Porto, na área coutada, pertencendo ao Termo Velho da Cidade, quer ao Rei, na área reguenga; mais tarde ainda, foi efémero concelho na sequela da vitória liberal; finalmente, também no século XIX, freguesia do Porto que ajudará a transformar com a industrialização e com a estação do Pinheiro.

"A memória, onde cresce a história, que por sua vez a alimenta procura salvar o passado para servir o presente e o futuro. Devemos trabalhar de forma a que a memória colectiva sirva para a libertação e não para a servidão dos homens".

Jacques Le Goff

 


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