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CONDIÇÕES NATURAIS

Numa perspectiva geomorfológica, quando as transformações ocorridas na paisagem são impensáveis em termos de uma geração, mas no decurso de milhões de anos, a superfície em que assenta a freguesia de Campanhã foi fortemente erodida, principalmente pela acção da escorrência, que motivou o deslizamento de materiais ao longo da vertente, até ao nível de base local que era, e continua a ser, o rio Douro.

A acção erosiva das águas foi modelando este espaço, destacando-se, na actualidade, as duas linhas de água locais, os rios Tinto e Torto, que ao esculpirem e alargarem os seus vales alteraram fortemente a paisagem antecedente.

As características geológicas do substracto rochoso, bem como os factores hídricos, determinaram uma superfície que, ao contrário da restante margem direita do rio Douro (com forres declives), detém cotas que se situam entre os zero e vinte metros, correspondentes à foz daqueles rios - Esteiro de Campanhã.

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Mapa Hipsométrico (Fonte: Carta Militar de Portugal; Serviço Cartográfico do Exército, 1974)

Na área do Freixo define-se uma das linhas de contacto entre o granito e o xisto, separando para oeste a área mais acidentada da China da de Azevedo, a leste.

Se o primeiro material oferece alguma resistência aos agentes modeladores, o mesmo não acontece com o segundo, o xisto, cuja composição geológica permite um maior desgaste. Daí a formação de uma área de cotas mais baixas, com formas de relevo brandas, de vertentes suaves e vales pouco encaixados.

Assim se definiram terrenos que propiciaram a prática agrícola, a nascente de uma faixa decalcada, grosso modo, pela estrada da Circunvalação. Se, no presente, a agricultura mais não é do que actividade residual, constituiu outrora, sem dúvida, a principal ocupação da população e a única fonte de rendimento de algumas casas senhoriais e dos seus caseiros.

Os vestígios mais nítidos situam-se sobretudo na área de altitudes entre os 60 e os 10 metros (margens dos rios Tinto e Torto), onde se inserem numerosas habitações, semeadas numa rede de caminhos fruste e desorganizada, orientada pela topografia. Será muito provavelmente a área de ocupação humana continuada mais antiga, integrando, entre outros, os lugares da Bonjóia, Azevedo, Pinheiro, Freixo e Vila Meã.

A área de altitudes médias, situada entre os 10 e 140 metros, onde se enquadram os lugares de Currais, Cruz, Contumil, Antas, Lameira, Bela Vista e Godim, permite admitir, antes da ocupação populacional recente, a existência de áreas florestadas com árvores de porte elevado, como carvalhos e pinheiros ou, nos lameiros, terras pantanosas onde o pasto crescia com abundância.

Nas áreas alagadas pela cheia invernal (em Azevedo, Freixo, Granja, Meiral, Pego Negro e outeiro do Tine) ou com maior disponibilidade de água, o carvalho seria substituído por uma formação arbórea de folhagem caduca: os choupos, os freixos e os amieiros, ou ainda, por espécies de menor porte e folhagem persistente, como o azevinho.

Com o decorrer dos tempos, o homem destruiu e substituiu as árvores originais, rompeu o equilibro milenar, e criou novos tipos de floresta, introduzindo, por exemplo, o castanheiro, que em muitos locais sucedeu ao carvalho.

A presença destas formações acabou por caracterizar determinadas áreas, facto bem patente na toponímia local - Ruas do Freixo, do Pinheiro de Campanhã e do Souto de Contumil, deixando adivinhar a antiguidade destas vias e a falta de outros elementos de referência e de identificação, numa paisagem composta de pequenas casas e uma sucessão de campos e de florestas.


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