12 AS ACTIVIDADES INDUSTRIAIS EM CAMPANHÃ Constatamos a relativa importância da actividade industrial no então concelho de Campanhã, em 1836. Procuremos-lhe, agora, antecedentes e tentemos o confronto com a situação, decorridas décadas, registada no Inquérito Industrial de 1881 (1). A primeira referência documental que conhecemos sobre a actividade «industrial» na área, remonta ao ano de 1200, em carta de venda de uma «levada de moinhos» por Mem Dias e sua mulher Elvira Teixeira a D. Gualdério, em troca de um vaso de prata(2). Os ribeiros, mesmo que muito exíguos, de Campanhã, sempre alimentaram rodas de moer, como as já registadas em Tiraz, Bonjóia e Tevilhe, numa actividade secular dirigida às necessidades do consumo da população local e também do consumo do Porto, como ficou referido para o ano de 1758 nas «Memórias Paroquiais». A actividade desses moinhos, atravessando os séculos, chegou muito perto de nós. Ainda em 1966 o Padre Tavares Martins, autor da extensa «Monografia da Paróquia de Santa Maria de Campanhã», inúmeras vezes citada, refere como laborando, então, 27 mós, em Pego Negro, Tirares, Lagarteiro, Campo (Azevedo), Fatum, Levada e Palheta(3). 0 mesmo autor dá-nos notícia de um litígio entre moleiros e lavradores a propósito da utilização das águas do Rio Tinto. Os lavradores estariam a recorrer à construção de poços mais profundos e novos processos de rega, como a «nora» movida com bois, que reduziam a nada o caudal do ribeiro. Recorrendo às instâncias judiciais, a sentença, de 29 de Agosto de 1822, é favorável aos moleiros, autores da acção, que fizeram «em mança e pacífica pose de fazer demolir todas as presas e encuradouros que se achão no mesmo rio a extrair água» desde o «cítio dos seus muinhos athé o lugar do nascimento do Ribeiro, em o dia dezasseis de Agosto de todos os annos, e assim se concervão athé o dia primeiro de Maio seguinte». Os réus do processo, lavradores de S. Cosme e do lugar da Granja (Campanhã) desistiam «do espólio da água do Ribeiro» no prazo reservado à laboração dos moinhos. «os interessados obtiveram um documento oficial que dá posse da água deste Rio Tinto e permite e autoriza que no dia 16 de Agosto de qualquer ano, uma patrulha de criados e de gente agrícola, chefeados por patrões, conhecedores do caso, armado de varapaus e enxadas, pés-de-cabra, espingardas, subam o leito do rio para cortar todos os desvios, e inutilizar todas as represas que impeçam a água de seguir o seu curso, a fim de fazer girar as mós dos moinhos» (4). Esta contenda não deixa de revelar o peso social dos moleiros. Também é reveladora da importância do grupo dos moleiros, a sua participação na procissão do Corpo de Deus. Em 1612 o Senado da Câmara da Cidade do Porto nela inclui os moleiros de Campanhã, Crestuma, Quebrantões, Santo Ando, Gondomar, Massarelos, Ribeira de Vilar e Lordelo: «cada um dará o seu feixe de juncos, espadanas e canas verdes, bons e grandes»(5). Constatamos, assim, ser a moagem uma actividade «industrial» com fundas raízes em Campanhã. A sua localização predominante, dada a força motriz utilizada, acompanha os cursos de água, ou o traçado das levadas que os desviam. Mas foi também utilizada a força cólica. Em 1807, no sítio do Fojo, à «face da estrada que vai da Feira dos Bois para o Sítio da Cruz da Regateira», existiria um moinho de vento (6). Em 1836 referimos, entre os eleitores do concelho de Campanhã, a presença de 25 moleiros, com destaque para Azevedo, Furamontes e Tirares. Quando terá ocorrido a passagem da moagem artesanal, utilizando como força motriz o vento e a água, para a moagem industrial? A primeira fábrica de moagem em Campanhã foi fundada em 1876, na Granja, propriedade de Manuel Pereira Paranhos. Recorria a uma máquina a vapor e empregava quatro operários (quadro n.° 7). Em 1913 era propriedade de Manuel da Rocha Paranhos. Em segundo lugar, e também com profundas raízes na freguesia, referimos a produção têxtil. (continua) (1) Relatório apresentado ao Ex.mo. Sr. Governador Civil do Distrito do Porto, pela subcomissão A. J. Carneiro e Silva, Joaquim António Gonçalves, A. Vieira de Castro e J. P. Oliveira Martins, Porto, 1881. (2) 0riginais do Cabido, L.° XII, fl. 40 (3) A. Tavares, obra citada, pág. 616 e 617. (4) Ibidem, pág. 618 a 620. (5) Ibidem, pág. 612. (6) AHMP Prazos da Câmara do Porto, L.° 52, fl. 453. |