Nos nossos dias, Canidelo já não é um manto de retalhos, constituída por vários lugares, mas um serpenteado de ruas, ruelas e ilhas, tudo ligado já sem um cunho próprio.

É interessante conhecer o significado de alguns dos locais e das ruas desta vetusta terra de ruelas estreitas, outrora só para o gado e para os carros de bois e agora marcadas pelos modernos transportes e por um movimento desusado, em contradição com o antigo sossego.

1 -Almeara ou Alumiara - Este nome pode vir do verbo latino - luminare, com o protéstico, e seria o local onde se colocavam os fachos para a orientação e defesa da navegação; mas pode ser uma variação de alumiara, derivada do termo árabe al-miar (plural de al-miara) e significar "aprovisio­namento", "monte de cereal", certamente bons campos de cultivo de cereais.

Inclino-me mais para esta raiz, dado que os fachos teriam melhor utilida­de em Lavadores, junto ao mar, no local onde está a Seca do Bacalhau, ou noutro, próximo da costa rochosa e das embarcações, onde, em tempos, esteve sediado um destacamento da marinha, com canhões, vigias, etc..

Nas lutas liberais, os miguelistas instalaram baterias de artilharia no Monte da Funda, em S. Paio, no Verdinho e Pedras de Cão para impedirem as embar­cações de entrarem na barra do Douro.

A propósito de fachos e vigias, sabemos que o Rei D. Sebastião, em 1570, publicou um Regimento de Companhias, mas a sua existência é, con­certeza, muito mais antiga. Já D. João II mandara pôr atalaias-carta de 30.8.1484, datada de Setúbal - no Porto, S. Gens e Vila do Conde.

As companhias eram formadas por um capitão que as comandava e por pessoas escolhidas por ele e pela Câmara, encarregados de vigiar as costas e de manter acesos os fachos ou faróis.

Os Sargentos-Mór de cada região, como Gaia, tinham a missão de revis­tar todo o esquema de vigia.

De meados de 1801, há uma relação de Fachos existentes em Gaia e dependentes do seu Sargento-Mór, em que se menciona o do Monte de Cabe­delo da Barra, certamente situado no local actual da Seca do Bacalhau.

Os fachos tinham edifícios próprios e eram formados por um tenente, um cabo facheiro e quatro guardas; o tempo encarregou-se de tudo destruir e nada nos deixar.

2 - Agro - O nome vem do latim Agei; campo de semeadura.

3 - Alvites - Nome comum a várias regiões e talvez derivado de Alvi­tici (já aparece no séc. X); nome de pessoa e de lugar. Alvites são os habitantes do lugar, baseado no nome de pessoa.

4 - Arca de Noé - Casa de repoiso e de férias, usando a comparação do facto bíblico.

5 - Barroco - Penedo irregular.

6 - Bouças ou Boiças - Terreno que só cria mato, inculto.

7 - Bustes - Pastagem.

8 - Cabedelo - Do latim Capiteliu - pequeno cabo.

9 - Castro - Do latim Castrum - fortaleza, castelo, ponto de defesa, num local alto, como é o caso do sítio assim apelidado.

10 - Chãos Vermelhos - Campos argilosos, avermelhados, portanto, com aspecto plano.

11 - Chouselas ou Souselas - Tapada = Mata cercada por um muro, onde se cria caça; cerca.

12 - Certinhadeira - Eira de terra.

13 - Corgo  (Rua do Corgo) - Vem de córrego, encosta suave e carreiro estreito.

14 - Cova da Bela - Talvez um local fundo, onde vivia alguma belda­de que dava nas vistas.

15 - Cova da Loba - Fundão, onde uma ou mais lobas se passeavam; a existência de lobos era facilitada pela densa vegetação e pelos matagais.

16 - Cova da Raposa - Local fundo ou toca, onde se esconde a raposa.

17 - Fojo - O étimo de origem é Fovea  (latim) e significava cova funda, coberta com ramos, para apanhar feras.

18 - Funcheiros - Da planta Funcho (erva doce) - vem de Funiculiu, termo latino.

19 - Lamelas - Tem origem em lama; Local onde há muita lama.

20 - Meiral - Por várias evoluções linguísticas, pode vir do árabe Ai-Ma-ria, "atalaia", vigia, ou ainda de Moiral, local habitado por moiros.

21 - Paniceiro - De difícil origem, mas talvez de Panaceiro, panaçal = terra que produz pão-milho.

22 - Pedra Escusa - Pedra a evitar?! Apareciam lá as almas do outro mundo, as almas penadas...?!

23- Picão - É aumentativo de Pico = Colina alta.

24 - Presa do Saleiro - Presa pode querer dizer local com água para regar e Saleiro deve estar em relação a sal-Sabor da água?

25 - Quatro Caminhos - O nome é elucidativo. Há notícia de que por aqui passava a Estrada Romana.

26 - Rodelo - Pau redondo que os pedreiros colocam debaixo das pe­dras para evitar que, ao assentarem-nas, se lhes partam as arestas. Certamente, no local, havia muitas dessas pedras.

27 - Rua da Bélgica - Indica a influência dos belgas que nela sediaram.

28 - Rua do Calisto - A origem do nome é o grego Kallistô e o latim Caílisto - era a ninfa, filha de Licon, mãe de Arcade - que significa muito belo. O nome da Rua tem uma origem menos poética, pois vem de um Senhor Calisto que ai construiu uma casa e nela habitou.

29 - Senra - Nome frequente no Norte e na Galiza. Tem origem no substantivo feminino Senra = Serra.

30 - Serro - Espinhaço de um monte.

31 - Sub-Ribas - Vem, por abrandamento, do latim Ripa=margem. Muito usado no Norte e na Galiza: Riba de Ave, etc.. Sub-ripas, porque sobranceiro às margens do Douro.

32 - Viso - Outeiro, cabeço.

33 - Alguns nomes de ruas ou locais têm uma explicação natural, bem evidente, como Amieiros, Salgueiros, Sabugueiro= (plantas conhecidas por todos), Cova da Silva, Fonte dos Olhos (olhos de água) Grandes, Outeiro ou Oiteiro (colina), Barrosa (abundante em barros), Oliveiras, Presa da Rita (re­presa de alguém com aquele nome), Pena ou Penha (penhasco), Pedra da Farinha (moagem), Quinta do Moinho, Campo do Monte, Monte da Luz, Rua dos Navegantes, Tripeira.

34 - Os ingleses que por cá viveram ou vinham passar férias, deixaram os nomes ligados à Terra. São exemplo disso as ruas do Flower e do Thom. O primeiro Flower que veio de Inglaterra para o Porto, foi William, no final do séc. XIX; além de comerciante era exímio fotógrafo.

   

Pág Inicial

Topo

   

 

©  - 2001 AJF.Com - Todos os direitos reservados -