1. As terras que compõem o Concelho de Gaia, a que SANTO ANDRÉ DE CANIDELO pertence, já existiam no período neolítico  e têm forte implantação da romanização, como o provam instrumentos de pedra polida e picos asturienses, encontrados entre Canidelo (Lavadores) e Valadares.

Dezenas de mamoas falam do período megalítico; cerâmicas marcam o do bronze e numerosos castros são indícios da Idade do Ferro.

Serão os romanos que, a partir do séc. 1, organizam e romanizam as populações dos  castros. Não é desconhecida a existência de um castro em Canidelo, como o comprova a sua toponímia.

2. Os muçulmanos também por cá andaram, com o documentam nomes bem marcantes: Almeara ou Alumiara, Alvites e mesmo Meiral ou Moiral.

3. Contudo a história documentada pela escrita é coeva do início da nossa nacionalidade. E mostra, como o afirma o douto investigador, Dr. Joaquim António Gonçalves Guimarães, a importância das gentes e terras do padroado da Igreja de Santo André, muito cobiçadas por vários poderosos locais e, por isso, passadas de mão em mão, ao longo dos séculos.

A primeira destas transacções surge numa escritura de 3.2.1124, pela qual João Mendes e sua esposa Maria Sarazina doam ao bispo D. Pedro, do Porto, e ao Cabido da Sé do Porto, o padroado da Igreja de Santo André de Canidelo:

"Eu João Mendes (Midiz, no original) e minha mulher Maria Sarrazina (Sarrazinis) ao senhor bispo portucalense Pedro, doamos o padroado da Igreja de Santo André de Canidelo".

Em Maio de 1132, Elvira Nunes, mulher de Suarius Fromarigues, importante fidalgo da Terra de Santa Maria, e os filhos doam ao Mosteiro de Grijó os direitos que têm sobre a Igreja de Santo André de Canidelo, facto confirma­do por Remígio Muniz, prefeito da província Portucale, Bernardo, bispo de Coimbra e Hugo, bispo do Porto.

Gonçalo Mendes, em 1145, vende um casal em Almeara (Alumiara) ao Mosteiro de Grijó, por 15 morabitinos.

Em 1147, afirma um cruzado inglês, de passagem por Portucale, que as areias do Cabedelo são medicinais e com elas se cobrem os doentes, antes dos banhos do mar, e até um bispo aí curou a lepra.

Gonçalo Mendes que acima referimos, vende, em 1152, por 50 "módios" e 3 moabitinos, as suas vilías de Vaízena (Várzea) e Almeara aos cónegos de Grijó.

O filho de Elvira Muniz, Nuno Soares e a mulher Elvira Gomes legam ao Mosteiro de Grijó, em 1156, propriedades sitas em Várzea e Almeara e que foram de Momenduz Odoriz.

A troco de 30 maravedis, é doada, por João Midiz, ao bispo portucalense D. Pedro III, por esta mesma altura, metade do padroado da Igreja de Santo André de Canidelo.

Em 1171, Pedro Goestes, padroeiro da Igreja de Canidelo, doa parte do padroado ao bispo do Porto e ao Cabido da Sé; em 1209 repete a doação, agora total, com a condição de um seu filho ser nomeado cónego e depois ficar com o dito padroado.

D. Afonso III, em 1255, no foral concedido à Vila de Gaia, doa-lhe, entre outros lugares, Canidelo (quomodo dividit cum termino coimbria vos (Coimbrões) et de Canidello e Almeara (Alumiara).

Nas Inquirições de D. Dinis, é pertença de Pedro Afonso Ribeiro e pouco povoada, o que aliás sucedia, nessa época, em todo o país.

Há, nesse período, um abuso dos direitos do padroado, referido no Censual do Cabido da Sé do Porto, em que os filhos de D. Rodrigo Afonso Ribeiro iam pousar habitualmente na Igreja, contra o que determinava a doação feita por seu pai à referida sé. O Rei Lavrador reprime tal atitude. (Em Fortunato de Almeida, História da Igreja em Portugal, vol. 1, pág. 106).

Curiosamente, o conde João Afonso, com direito a aposentadoria no Mosteiro de Grijó, será uma das testemunhas do casamento de D. Pedro com Dona Inês.

No reinado de D. Afonso IV, a quinta de Canidelo está na posse dos Coelhos, João Coelho, cavaleiro, e o sobrinho do mesmo nome que a irão doar ao Infante D. Pedro, seu amigo, como o testemunha um documento lavrado no Mosteiro de S. Francisco, em 10 de Junho de 1352.

4. Quando tomei posse da paróquia de Canidelo, em 17 de Novembro de 1991, muitos alunos das escolas me entrevistaram sobre a estadia da desditosa Dona Inês de Castro, na Quinta do Paço, ligada à Igreja Paroquial.

Confesso que, nessa altura, isso me parecia ser apenas mais uma lenda, das imensas que correm em vários momentos da nossa longa história de na­cionalidade das mais antigas da velha Europa.

Com o rodar do tempo, fui-me informando e, ao ler mestres da história, como o Professor Doutor António Vasconcelos, na bem estruturada obra sobre a "mísera e mesquinha que depois de morta foi rainha" - "Inês de Castro", 1928 -; o estudo - "Amores de D. Pedro e D. Inês, em Terras da Lourinhã, de Gaia e de Coimbra", 1966, de J. T. Montalvão Machado; e tam­bém "o Concelho de Canidelo de D. Pedro e D. Inês - 1984 - do Prof. Dr. Joaquim António Gonçalves Guimarães, assim como maravilhosos artigos publicados no mensário de Canidelo, "Pêndulo", por autores da classe do Dr. Francisco Barbosa da Costa e de Abílio Lopes, fui-me convencendo de que a linda e infeliz Inês, de facto, viveu, uns dois anos, no paço de Canidelo, escon­dida da ira de D. Afonso IV.

E há documentos e factos que dão razão a esta convicção, como vamos ver.

O primeiro é a doação dos Coelhos que referimos e que nos leva a con­cluir que D. Pedro desejava fixar um lugar calmo para a sua amante, dado que já não era seguro o da Lourinhã e pouco cómoda a estadia temporária noutros locais do Norte.

De notar ainda que, dois dias após a escritura com os amigos Coelhos, D. Pedro doa o referido padroado a D. Inês, renunciando a ele, no total.

O nome de Quinta do Paço - anteriormente era apenas a Quinta de Canidelo - parece ainda indicar, realmente, a estadia do par régio, na mesma.

Segundo a opinião de Montalvão Machado, D. Pedro e D. Inês devem ter vivido no Paço de Canidelo, desde o início de 1352 até ao fim de 1353, e aí deve ter nascido a Infanta D. Beatriz, sua filha.

Segundo parece, em 1 de Janeiro de 1354, talvez tenha sido o casamento dos dois, na vila de Bragança e, passado um ano, em 7 de Janeiro de 1355, a bela Inês vai morrer no Paço da Rainha, em Coimbra - a célebre Quinta das Lágrimas -.

4. D. Pedro, mesmo após a morte da sua mulher, não esquece Canidelo. A 23 de Outubro de 1360, isenta os moradores de Afurada "...que é per­tença da minha quinta de Canidelo..." de pagarem finta e talha à... minha vila de Gaia...

Pouco depois, arrenda um lugar de reguengo da"... quinta régia de Canidelo..." a seis homens que o tinham povoado, o que indica a preocupação de fixar gente nesta terra.

No ano seguinte, arrenda a um certo Domingos e sua mulher dois casais, sitos em Lavadores, pela renda anual de 16 alqueires.

O ponto mais alto da sua actuação em Canidelo é a criação do seu concelho, por carta escrita em Coimbra - 30 de Novembro de 1363 - e a pedido dos homens bons do povoado, com as mercês e regalias próprias, como eleger juizes, ter jurisdição civil e criminal e cadeia própria. Foi o 3.º Concelho da margem sul do Rio Douro.

Em 2 de Abril de 1366, confirma o privilégio de 1363, e o mesmo faz em 22 de Junho de 1366, com a concessão de ter selo próprio, com as armas de Portugal (Reais) e o nome de Canidelo nele inscrito.

Em 17 de Janeiro de 1367, estando D. Pedro quase no fim dos seus dias, no seu testamento, ordena que entreguem aos filhos da Infanta Inês que foi sua mulher, a quinta de Canidelo e tudo o que foi dela.

D. Fernando, em 3 de Março de 1368, confirma Canidelo como concelho e, em 3 de Abril, manda entregar a terra à sua meia-irmã, D. Beatriz, filha de D. Inês.

Mas o mesmo monarca extingue o concelho, em 6 de Abril de 1375, volvendo a sua tutela ao Juiz de Gaia, certamente por influência de D. Leonor Teles, por causa de a cunhada, D. Beatriz, não querer assistir ao seu casamen­to.

D. Beatriz viveu em Canidelo, onde parece ter nascido em 1352 ou 1353; mas como sucedeu a seus irmãos, D. Dinis e D. João, teve de se refugiar em Castela, em 1377, fugindo à vingança da pérfida D. Leonor Teles, e ai se ca­sou com D. Sancho, irmão do Rei Henrique II.

5. Com a saída de D. Beatriz, Canidelo vai ter novos destinatários.

D. Fernando, a 14 de Setembro de 1381, entrega as quintas de Canidelo e da Afurada, do almoxarifado de Gaia, ao vassalo Afonso Gomes da Silva, com todas as rendas e pertenças, em idênticas condições às da posse da Infan­ta D. Beatriz.

Inconstante como era, o mesmo rei, doa, em 19 de Janeiro do ano seguin­te, a quinta de Afurada a Vasco Gomes de Abreu, apesar dos protestos de Gomes da Silva e, em 20 de Outubro do mesmo ano, estando em Alfeizerão, confirma que o primeiro fica com Canidelo e o segundo com Afurada.

Afinal, a posse das terras concedidas aos dois vai ser sol de pouca dura.

A crise de 1383 leva-os a tomar o partido do rei castelhano, D. João I, e a perder as doações. O Mestre de Aviz, por carta de 2 de Abril de 1384, concede a Lourenço Mendes, criado da Infanta D. Beatriz, pelos bons serviços presta­dos ao reino, a doação que renova em 12 de Novembro de 1385.

A Quinta não era só uma propriedade de cultivo, mas um latifúndio, com vários quilómetros, até ao Douro e ao Oceano, abrangendo os lugares de Afurada e Lavadores, sendo por isso muito cobiçada.

Talvez também pela sua grandeza, o seu dono que acima referimos teve de vendê-la a Fernão de Sá, filho de João Rodrigues de Sá, companheiro de D. João I no cerco de Lisboa, na batalha de Aljubarrota e outras, e conhecido por Sá das Galés.

Esta venda foi ratificada pelo Rei Eloquente, D. Duarte, em 18 de Junho de 1434 e por D. Afonso V, a 7 de Maio de 1451, com os privilégios concedi­dos por D. Pedro I, como a livre eleição de juízes, dispensa de pagamento de fintas e talhas, isenção de serviço militar, etc..

Curiosamente, os "Sás" não tinham sido aceites como alcaides do Porto, de onde eram oriundos e, por isso, procuraram obter os vários privilégios para Canidelo e Gaia.

O Bispo do Porto, conforme o Censual da Mitra de 1455, faz valer o seu direito sobre o padroado da Santo André de Canidelo, passando a sua visitação a ser feita pelo Arcedíago de Oliveira do Douro.

No foral que D. Manuel I dá a Vila Nova de Gaia em 1518, diz-se que o Casal del-rey anda arrendado a Fernão Fernandes, por meio maravedi e vinte e quatro reais.

Os direitos sobre a Igreja de Canidelo são trocados pelos de Santa Maria de Gulpilhares e aquela fica pertença dos Cónegos de Grijó que, com isso ficaram a ganhar, pois Canidelo era, nessa altura, taxado em 130 libras por ano, quando Mafamude o era por 50, Avintes por 70, Santa Marinha por 400 e Valadares por 100. Canidelo pagava, por ano, ao Bispo do Porto, 27 alqueires de trigo, 27 de cevada e 20 de milho.

6. Pela Casa do Fojo, como se pode comprovar pelas "Ordens da Divisão do General Hamilton", assinadas pelo então chefe da família Saavedra, José Pinto da Cunha Godinho Saavedra, as Invasões Francesas aqui tiveram a sua acção e o quartel general das forças anglo-portuguesas; o irmão e os filhos de D. José foram ajudantes de campo de vários generais ingleses, pela sua valentia e ainda por falarem o inglês e outros idiomas.

O Liberalismo e os seus maus momentos de luta também passaram por Canidelo. O Marechal Saldanha, amigo dos Saavedras, foi aqui armado cava­leiro e ajudante de campo, por D. Josefa Nevill, senhora da Casa do Fojo.

No cerco do Porto (1832-34), foi nela o quartel general do exército rea­lista. Rompidas as linhas, os liberais dirigiram-se logo à Quinta do Fojo e assassinaram dois frades do Convento da Piedade, aí escondidos; estão enter­rados junto aos muros da quinta. Também D. José Saavedra e uma sua irmã, apesar de não terem querido ensanguentar as suas espadas em lutas fratrici­das, só foram poupados ao fuzilamento pela intervenção do irmão Tomás, barão de Saavedra, oficial das tropas liberais.

Em 1847, esteve estacionado na quinta do Fojo o coronel José Maria Magalhães, com o seu Regimento 10 de Infantaria, à espera da Convenção de Gramido, assinada entre o General da Junta, César de Vasconcelos, e o gene­ral Castelhano Concha, em 30 de Junho daquele ano e com a qual se pôs termo às guerras liberais.

7. Canidelo, através dos tempos, passou de mão em mão, desde as origens; como vimos, na posse régia, de particulares, do bispado do Porto e do seu cabido, dos conventos de Grijó e do Pilar (Cónegos Regrantes de Santo Agostinho ou Crúzios), dos marqueses de Abrantes.

8. 0 cura de Canidelo era, quando dependente do Mosteiro da Serra do Pilar, apresentado com a renda de 120$000 réis.

A propósito do dito mosteiro, é importante saber que os seus Cónegos tinham, na paróquia de Canidelo, uma brévia ou casa de férias, localizada na Quinta de S. Paio, perto da Afurada, lugar já referido em documentos do séc.XIII.

A casa é magnífica; foi transformada no séc. XIX, tempo de neo-gótico. Tem até guaritas para vigiar a barra; da traça primitiva pouco ou nada resta, pois até um portal renascentista foi vendido e levado para a Quinta da Conceição, em Matosinhos.

Ao lado existe a Capela de S. Paio, construída por Gaspar Braga, em 1568, transformada no séc. XVIII e restaurada nos anos 80, com a ajuda do povo e da autarquia, sob a orientação do arquitecto Manuel Magalhães. A inauguração desta última fase foi em 24 de Fevereiro de 1985, com a presença do Senhor D. Domingos de Pinho Brandão, bispo auxiliar do Porto.

Como curiosidade, lê-se nos livros de Receita e Despesa (1, fi. 21 v.) do Mosteiro da Serra do Pilar que o custo da capela foi de 22 mil reis, contando com a alvenaria, e foram dados a Gaspar de Braga, no começo da obra, dois mil reis.

A imagem do mártir S. Paio, padroeiro da capela, custou 4 mil reis; como foi feita em Coimbra, o seu transporte custou 700 reis; a douração e a encarna­ção custou mil e duzentos reis.

Onde pára essa imagem valiosa?! Andará em mãos particulares ou foi roubada? É que a existente na capela é de terracota, recente e singela.

Os cónegos venderam a quinta em 14 de Novembro de 1767; voltaram a comprá-la, por contrato a 7 de Junho de 1768.

Em 25 de Setembro de 1936, as Irmãs Oblatas do Coração de Jesus ad­quiriram a Casa e a Quinta e aí tiveram o seu noviciado. Actualmente mantêm uma Creche, e exercem uma profícua acção apostólica naquela povoada comunidade.

Foi em S. Paio, que se fixaram os primeiros habitantes de Afurada, como refere um documento da altura da descoberta do Brasil: 

"se pagarão os pescadores que pescarem no arinho da furada, homde chamam Sam Payo, abaixo de Gaia, no fundo de Santa Catarina". 

Os primeiros pescadores foram: José da Silva do Mar, Francisco Gomes Remelgado, os Ferreirinhas, os Fanecas e os Fanelas que conseguiram o aforamento dos terrenos do Município a preços módicos. Também, nessa altura, veio Manuel Pinto Pinhal que deu inicio à construção da capela de Afurada, concluída em 1894 e serviu de Igreja Paroquial até 10.7.1955. A primeira escola oficial no tempo da República foi em S. Paio. Ficou célebre a acção do Prof. Costa e Silva (o Brigadista).

9. Poucas referências se conhecem, após o séc. XVI, além das já indicadas, mas Canidelo foi-se desenvolvendo e hoje é uma metrópole muito povoada e em franco desenvolvimento, contudo ainda com algumas carências.

A Casa da Junta que, em breve será ampliada, situada no centro da Terra, perto do cemitério e da futura Nova Igreja, no lugar de Chouselas, é obra dos então componentes da Junta de Freguesia, Bernardino de Barros Júnior, António Gonçalves de Castro e José de Sousa, a quem se deve ainda a feitura das escolas de Lavadores e do Viso.

 

Apêndice 1

  • Uma Tábua Sinóptica, elaborada por Gonçalves Guimarães, José António Afonso e Raúl Solia Prata, em O FORAL DE GAlA DE 1255", dá-nos alguns preciosos dados referentes a datas importantes da história de Gaia e portanto de Canidelo que, nos primeiros factos aí referidos, não falam de Canidelo, nessa altura um lugarejo pouco povoado, sobremodo nos primeiros momentos.

Em 22 do século 1, a X Legião Gémina está sediada em Astorga.

No século II, Calem é mencionada, no itinerário do Imperador Antonino, como a última estação da estrada romana de Lisboa a Braga e que passava pelos actuais Quatro Caminhos.

Em 456 - Séc. V - Idácio no Chronicon, Espanha Sagrada, T. IV. loca­lizada o Portucale locum, na margem direita do Douro e o Portucale castrum, na esquerda.

No século VI (569-582), o documento 552 doLiberFidei - Livro da Fé - de Teodemiro determina os limites da diocese portucalense, a norte do rio Douro; e o mesmo Teodomiro, no Parochiale, refere que Portucale castrum antiguum - Portucale, castelo antigo - pertence à Diocese de Coimbra, e portanto o território de Canidelo.

Daqui nasce um diferendo entre os bispos de Coimbra e do Porto que vai arrastar-se por vários séculos, como se pode constatar pelas bulas 'Egregias quondam," do Papa Pascoal II, de 15 de Agosto de 1115, pela qual a diocese do Porto vai até aos limites do rio Antuá, na Terra de Santa Maria (actual Vila da Feira) e a "Provisionis nostrae" de 1253, que confirma os referidos limites.

Em 922, dá-se a fundação do Mosteiro de Grijó que estará ligado, muitas vezes, a Canidelo.

1140 - Fundação, pelo bispo do Porto, de um convento de empareda­das, no Monte da Meijoeira, actual Serra do Pilar; este nome só aparece no século XVII; também lhe é atribuído o nome dc S. Nicolau; no séc. XVI, dá-se a fundação, no local do anterior mosteiro das emparedadas, do Mosteiro dos Cónegos Regrastes de Santo Agostinho, ou Crúzios, muito ligados a Ca­nidelo cujo padroado deles dependeu, algumas vezes e que fundaram em S. Paio uma sua colónia de férias, como referimos noutro lugar.

No foral de D. Dínis à Villa de Gaia, em 1288, o velho Burgo passa a chamar-se Vi lia Nova de Rey.

No séc. XIV - 1317, 1338, 1384-, nos reinados de D. Dínis e D. João I, há referências a Villa de Gaya e Villa Nova e às Igrejas de Santa Marinha e de Gaya.

Em 1385, o castelo de Gaia é destruído pela população do Porto.

No século XIX - 1834- termina a divisão administrativa entre conce­lho de baixo - Villa Nova - e concelho de Cima - Gaya -.

No cartulário Baio-Ferrado - 1145, 1152, 1156 - encontram-se refe­rências a Alumiara (Almiara) ou Almenara.

Em 1145 - Cartulário Do Baio Ferrado do Mosteiro de Grijó - faz-se a confirmação de venda de um casal por 15 morabitinos - o morabitino é uma moeda em oiro, cunhada pelos almorávidas (muçulmanos) e que foi, mais tarde, usada pelos reis portugueses -; casal é uma comunidade de explora­ção, com uma casa de habitação, um jardim, um quintal e parcelas agricultá­veis; a sua origem é romana.

A circulação monetária e a de artefactos fazia-se pela "Stracta Maurisca", sucessora da via romana que ligava Lisboa a Braga e antecessora da estrada n.º 1 - passava pelos Quatro Caminhos? -.

Em 1152, surge a "Karta de Almenara" que trata da venda, feita por Gon­çalo Mendes aos Cónegos do Mosteiro de Grijó, de metade das propriedades pelo valor de 50 módios - era uma medida de capacidade com cerca de 350 litros; o módio grande pesava 800 quilos e o pequeno 250 - e três morabiti­nos e um cavalo na Várzea (Vila da Feira) e Almeara.

Em 1156, aparece novamente Almeara, por causa de um legado de Nuno Soares e Elvira Gomes, sua mulher, ao mosteiro de S. Salvador de Grijó e que tinha sido peryença de Nomenduz Odoris.

  • Na história de Canidelo e, em vários dos seus documentos, fala-se do Bayo Ferrado e do Livro Preto de Grijó.

Julgo, por isso, útil uma explicação do que são.

Ambos são fólios (livros com folhas), onde os frades do Convento dos Cónegos Regrantes do Convento do Salvador de Grijó escreviam a sua histó­ria.

O nome de Bayo Ferrado vem da encadernação das lombadas, de pele dourada, reunindo os seus 113 fólios de pergaminho; não tem ferragens, como o nome parece entrever, mas sim uma côr castanho carregado, quase ferro escuro.

Opõe-se ao Livro Preto, de cor mais escura.

Os fólios (folhas) têm formatos inferiores à encadernação: 315/225 mm. Contra 320/230; dois fólios - 113 e 114 - têm dimensões mais reduzidas. 280/200 mm.
A numeração dos fólios é recente: séc. XVIII.

  • No Livro dos Originais (colecção de pergaminhos) do Cartório do Cabido da Sé do Porto, organizado por José Gaspar de Almeida, há várias referências a Canidelo, no Livro XII (1670), 314, fi. 45; no Livro XV (1673), 428, fl. 3; no XXII (1680), 684, fi. 25; no XXIII (1681), 717, fi. 32 e 722, fl.37, 723; fl. 38, 724; fl. 39; No Livro XXX (1688); 965, fl. 9; os textos desses documentos estão, quase todos, exarados e referenciados, em várias páginas deste livro, pelo que apenas citamos estas fontes.

Padre José da Costa Saraiva
.... CANIDELO no Passado e no Presente


 

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