O fenómeno que se evidenciou em Portugal, desde
finais dos anos 50, que consiste num conjunto de
transformações estruturais, com reflexos na ocupação
e organização do território, nos aspectos concretos
da concentração urbana, na diminuição da agricultura
na economia, com a subida da indústria e do terciário,
também se verificou em Canidelo, terra do litoral, onde
tais fenómenos são mais notórios.
De
povoação de gente simples, de cunho agrário, com
tradições e rituais populares, tem-se transformado em
meio urbano, onde as pessoas se desconhecem e os
ancestrais costumes perdem o seu cunho e o seu conteúdo,
aliados a um envelhecimento do povo tradicional e mesmo
a fuga de seus descendentes para locais mais propícios
a uma boa situação económica, tudo isto com reflexos
negativos no viver social, político, religioso e
humano, em geral; o velho interesse pelo terrunho e seus
costumes vai desaparecendo, neste amplo dormitório, sem
cor, sem rumo, sem apego à terra e aos seus problemas,
por falta de enraizamento e, sobretudo, de motivações
para ela e cuja culpa é de ambas as partes, por falta
de diálogo e de acolhimento.
Terra,
onde se vive, mas não se convive.
Terra fechada à vibração humana.
Por isso - não apenas por esta razão - as seitas aí
encontram um bom caldo de cultura.
VIDA
ECONÓMICA
Canidelo,
como todo o território nacional, foi, durante muitos séculos,
apenas um meio agrário, embora com alguma indústria
caseira e um comércio singelo, a principio de trocas e,
mais tarde já com o uso da moeda corrente.
A
urbanização, a que acima nos referimos, veio arrefecer
a agricultura, quer pela industrialização e pelo comércio,
quer ainda pela construção de imóveis, a ocuparem os
terrenos férteis.
Documentos
antigos falam da existência de uma agricultura com
certa pujança, pois muitas das suas terras eram
frequentemente transaccionadas, por troca, escambo,
aprazamento e venda.
Os
cereais foram, sem dúvida, a base dessa agricultura de
subsistência.
Um
documento do século XVIII - 1759 - fala da produção
do milho, trigo, cebolinho e repolhos, mas devia, como
hoje, cultivar a vinha, a batata e várias hortaliças.
As
explorações agrícolas não excedem os 10 hectares e
os agricultores têm idade superior a 54 anos; as terras
são, em boa parte, arrendadas.
Os
antigos pinhais e mesmo as tradicionais árvores de
fruto - macieiras, pereiras, pecegueiros, figueiras,
etc. - são actualmente de pequena monta, por motivo da
construção civil, aumentada depois da feitura do
caminho de ferro, da estrada nacional n.º 1 (IC1) - auto estrada
(A1) - e da facilidade de transportes.
A
pesca, noutros tempos, talvez tenha sido de certo
movimento, no mar e no rio; hoje, a pouca que existe é
individual e sem peso económico.
Canidelo
tem um comércio de monta, em quase todos os
ramos: mercearia, mini-mercados, mobílias, salsicharia,
talhos, farmácias, materiais de construção, artigos
de vestuário, miudezas, casas de comes e bebes, com
alguns restaurantes de boa qualidade - Casa Branca e
outros - um Hotel de luxo, vinhos - mesmo vinhos do
Porto - Alumiara e Quatro Caminhos faziam parte dos
limites no decreto 42605 (art. 1..º), de Out. de 1959,
delimitador do armazenamento do vinho do Porto.
A
indústria, em várias vertentes foi e é ainda
uma das maiores fontes de emprego dos habitantes de
Canidelo e até de pessoas de fora.
A
crise da mesma não é apenas fruto da falta de
competitividade que afecta todo o país, mas vem já da
independência das nossas colónias, sobretudo Angola e
Moçambique, que tudo compravam, deixando de fazê-lo,
por motivo das suas convulsões internas e ainda pela
falta de uma atempada renovação das unidades fabris..
Sem
ter a pretensão de enumerar todas as fábricas desta
vetusta terra, vou apontar algumas, de maior ou menor
importância, uma ainda em franca produção, outras já
fechadas: Estaleiros navais do Gouveia, Conservas de
Pereira Júnior, Seca do Bacalhau, Estamparia de
Lavadores, Fitela, Cerâmica do Fojo, Carioca &
Gonçalves, CEOP - Sociedade
de Empreiteiros de Obras Públicas -, com sede em
Lisboa; aqui dedica-se à extracção de pedra; Solusel;
Oficinas
Metalúrgicas, etc.
O
linho parece ter aqui sido preparado, como o evidencia a
Rua do Lago do Linho e os moinhos de vento - Quinta do
Moinho, Picão - foram outrora moagens artesanais de
certa monta.
No
Plano Viário e de Transportes muito está
feito, mas urge fazer ainda mais.
A
última rua inaugurada e feita com cabeça, - apesar do
seu mau estado actual - foi a de Salgueiros, em 1.8.1954
e os transportes da firma J. Espírito Santo e Irmãos e
do STCP ( 93) - são manifestamente insuficientes.
Seria
muito importante a construção de uma estrada larga e
bem delineada para as praias, cada vez com mais
movimento e uma das maiores fontes de riqueza da
freguesia.
Orla Marítima - Frente Mar Lavadores/Salgueiros.
|