
1-
Na margem esquerda do Rio Douro, junto à sua foz,
marginada pelo Oceano Atlântico, situa-se a antiga Vila
de Canidelo que dista 5 quilómetros da sede do
concelho, Vila Nova de Gaia,
e é hoje uma das freguesias da cidade e uma das
24 do concelho de Gaia.
Faz
parte da Província do Douro Litoral, mas já o foi do
Alto Douro e, em 1747, era da Beira Alta.
Do
Cabedelo até à Praia da Madalena, emolduram-se as
praias de
Lavadores e de Salgueiros, outrora frequentadas somente
pelos mais abastados que a elas se dirigiam em formosas
carruagens, sobressaindo os colonos ingleses que por ali
se fixam e até darão o seu nome a algumas das actuais
ruas, como veremos. Os trens sediavam-se nas alquilarias
do Candal, da Bandeira e de Santo Ovídio. Para os menos
afortunados, havia carreiras de char-à-bancs (carros
com bancos de madeira).
Confronta
a nascente, com as freguesias de Santa Marinha, e Afurada; a norte, com o Rio Douro; a poente
com o referido oceano e a sul, com a freguesia da
Madalena.
No
concelho de Vila do Conde, há uma freguesia com idêntico
nome e, na Galiza, uma, com o nome de Canido.
2
- No início da sua história, foi conhecida por Santo
André da Barra, por confinar com a margem esquerda da
Barra do Douro e, por vezes, era confundida pelo nome de
Lavadores, então o seu maior lugar; em documentos
antigos, como as inquirições de D. Dínis, é
designada por Santandré de Cany-dello e Sanchi andree
de Canidello (1);
a escrita com dois 1, ainda se lê no cemitério
velho.
3
- A origem do nome é curiosa e assenta em testemunhos
de pessoas mais idosas que o confirmam. Não vem de cão,
como alguns me elucidaram, quando vim para aqui, mas sim
de cana, através do seu diminutivo Cannitellu, derivado
de cannitu, cuja raiz é canfla, arbusto
muito frequente, à beira dos ribeiros. O avanço da
urbanização foi acabando com tudo isso, assim como com
as fartas matas existentes outrora.
4
- Os principais lugares eram: Alumiara, Alvites,
Canidelo, Fojo, Lavadores, Meiral ou Moiral, Paço,
Paniceiro, São Paio, Verdinho, actualmente incaracterísticos,
porque serpenteados por várias ruas, com nomes próprios.
5
- Documentos de 1759, referem que Canidelo produzia
milho, trigo, cebolinho e repolhos. Em tempos mais
recuados devia cultivar, sobremodo, centeio, milho e
cevadinha. Actualmente, além dessas culturas, são de
destacar, a batata, algum vinho morangueiro e variadas
hortaliças; os morangos foram também uma cultura de
vulto e, no século passado, muito apreciados nos
arredores e na cidade do Porto, onde vendedeiras,
vestidas com trajes regionais, os levavam em belas
canastras.
6
- A superfície de Canidelo é de cerca de 900 hectares.
O relevo é de pouca monta, rondando os 80-90 metros.
Notória neles a influência de glaciação, no plistocénico
médio e inferior, de modo especial na zona de
Lavadores.
-
O
granito é o constitutivo das suas rochas, mesmo na
zona marítima. O clima é moderado. Entre
1930-1982, as temperaturas médias foram superiores
a 31 graus C e inferiores a 22 graus C. O mês mais
frio é Janeiro e o mais quente é Julho; a
amplitude térmica anual é de 11 graus C.
-
A
precipitação média por ano é de 1400 mm.
-
São
muitos os nomes de rios, em Canidelo; porém, não
passam de locais onde se lavava e, nalguns, ainda se
lava a roupa e eram, e alguns ainda o são, pequenos
riachos, alguns deles cobertos e não visíveis.
Citamos os seguintes:
Demografia -
1-
O actual número de habitantes é de cerca de 40 mil; o
ritmo da construção, porém, cresce tanto que,
brevemente, atingirá os 45 mil.
2
-Evolução:
-
1739
- Canidelo tinha 156 fogos e 630
habitantes;
-
1874
- 360 fogos; em 1900, 2428 habitantes, sendo 1129
varões, 1231 fêmeas (é assim que vem no
documento); sabem ler, varões, 341, fêmeas, 102;
analfabetos, varões, 856; fêmeas,
1129;
-
1911
- os fogos eram 605, os habitantes 2872; varões,
1374; fêmeas, 1498; os portugueses eram 2428; de
outro concelho, 128; estrangeiros, 19; de fora dos
distritos, 297; casados: homens, 455; mulheres, 461;
solteiros, 873 varões e 917 fêmeas; divorciados,
uma mulher; separados judicialmente, 2 fêmeas; viúvos,
45 varões e 117 fêmeas; analfabetos, 874 varões e
1273 fêmeas; sabem ler: 500 varões e 225 fêmeas;
-
1960
- 2124 fogos e 8140 habitantes; e,
-
1980
- 15
mil habitantes.
-
1991
- 25 mil
habitantes.
-
2001
- 40 mil
habitantes.
Curiosidades -
1
- Em 1747, o seu donatário era o Marquês de Abrantes;
pertencia à província da Beira Alta, o termo era o
Porto; o seu ouvidor é do concelho de Gaia; o orago é
Santo André; é curato, com apresentação do Mosteiro
da Serra do Pilar; a renda anual é de 59 mil réis e
tem as Irmandades da Senhora do Rosário e a de Santo
André.
2
- Há 118 anos, esteve previsto um porto de mar, no
Cabedelo e teria o nome de porto de Lavadores. Em 1876,
Moier fez os primeiros estudos, continuados pelos
engenheiros Oudinot e Gomes de Carvalho; o Visconde da
Luz foi um dos grandes entusiastas da sua realização.
Venceu, porém, a solução de Leixões, prevalecendo
outros estudos e aspectos políticos. Apontavam-se as
correntes opostas que existiam na barra do Douro, na
zona do Cabedelo.
3
- O Município de Gaia foi criado em 28.5.1834. Canidelo
ficou a fazer parte do concelho. Quando foi elevada a
freguesia pertenceu, no plano judicial e político, ao
concelho de Santa Maria da Feira (Terras da Feira) e,
religiosamente, ao Convento dos Cónegos Regrantes da
Serra do Pilar.
Em
6.8.1834, após a inserção no novo concelho, foi
nomeado Presidente da Junta o canidelense Sr. Manuel
Domingues da Rocha que escolheu para seus auxiliares José
Alves dos Santos, Manuel Gonçalves de Castro, José
Alves Viúvo, Domingos Francisco Reis e Manuel Domingues
Chaves. Prestaram juramento de fidelidade à Rainha D.
Maria II, a 19.9.1834, nos Paços do Concelho, sito na
Rua Guilherme Gomes Fernandes, n.-0 81,
conhecida então como Rua do Baixo.
4
- Lavadores, segundo uma antiga lenda, tem origem
num naufrágio ocorrido na sua costa. O povo ajudou os náufragos
e era seu comandante um tal Dores. Logo que refeito dos
seus males pediu: Leva Dores para o barco, leva Dores
para o barco. Dai o nome de Lavadores.
Para
outros o nome vem de Lavradores, com a natural síncope
do r; não virá, talvez, de lavadores de redes?!
Nas
Inquirições de D. Dínis já se fala de Lavadores: ...
"Da renda de Coimbrões e de Lavadores e de
Mafamude..."; idem: "Ha el-rei, na
aldeia de Lavadores, VII casaes; quatro estão povoados
e três estão ermos".
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